quinta-feira, 3 de março de 2011

“Nesse modelo”

Um padrão de beleza,
a sociedade,
veio a criar.

Que muitos,
 a morada da alma,
vêm a violentar;
apenas para,
nesse modelo,
vir a se encaixar

Diga-me: de quem são as correntes,
que a participar desta onda,
vem a te obrigar?

Pois, afinal,  não somos livres,
de esta imposição,
 não aceitar?


“Em minha caixa mágica...”

...três letras consoantes brilham.
Com um show de circo lotado
de fúteis, cinícos e, 
por vezes, depravados.

Será que há mal em
 humanos se humilharem e,
a situações patéticas, se sujeitarem; 
onde um bando de animais
enjaulados e expostos
(como em um  zoológico)
é o que, basicamente,
eles mais parecem?

Afinal  conseguir atenção,
aqueles quinze minutos
que para eles são preciosos,
não é maior  que
 manter sua dignidade?

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Jussara e ele

Os pés de Jussara a levaram até o parque. Os pés de Jussara a levaram até ele. Seus lábios dirigiram uma mensagem para ele, como fizeram uma vez.
Quando ele ligara para ela. Estou morrendo de saudade de ti, ele disse. Aquela mesma voz amorosa, ao telefone, era a mesma que dissera para ela não ver mais "aquela sua amiga machorra".
A mesma voz que disparara xingamentos aos outros amigos dela, que a fizera afastar-se de quem ela gostava, que a fizera odiar ele, intensamente. Os lábios de Jussara expressaram através do telefone, 'Tá', olha, eu quero falar contigo.
Agora alí estava ela. Seus olhos enacarando a face dele. Seus olhos tentando alcançar os olhos dele, que estavam encobertos pelos óculos.
-Não dá mais! Eu quero que tu saía da minha vida. Não quero que a gente se veja mais.
Antes ela estava receosa com qual poderia ser a reação dele. Sua mente disparava volta-e-meia perguntas. Como falar isso? Calma, tu és forte; uma mulher forte. Como dizer para a pessoa que tu ama, que não quer mais ela?
Os olhos de Jussara observavam a sua reação; ele não falara nada. Apenas sua voz saltava, um pouco engasgada. Não, eu não quero.
"Ai, meu Deus", a mente dela gritara. Seus lábios dispararam, Tu estás chorando? Ele se virara, Não, não tô. Um sorriso escapou dela. 
Assim, espontâneo. As palavras cortantes voltaram a ser pronunciadas por seus lábios: Mas eu preciso. Já chega disso. Eu quero começar de novo. Na paz. Tá certo?
Ele a observava; o escudo negro de plástico que escondia seus olhos não diziam nada. Então, tá. Eu... Eu... Tá, tá. Eu, eu vou embora.
Sem mais palavras. Os pés dele o levaram para longe de Jussara. Os dela a levaram para a liberdade. Livre da barreira que aquele laço a impedia de cruzar. 
Agora, Jussara anda rumo ao destino desconhecido... 
Consegue vê-la logo alí?


Em meio a várias constelações,
vejo pedritas fúteis e ocas
querendo ascender
ao posto reservado à estrelas
que jamais virão a ser

Pois foram mal-lapidadas
e o principal,
vem a lhes faltar.
Então desistam, pedritas!

Porque por mais 
que o brilho
venham a caçar

A verdadeira estrela
é aquela que,
naturalmente,
começa a brilhar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Um curto desejo, para uma curta vida

O tédio atingia-o de maneira fuminante. Confuso o por quê disto. Do tédio. Não há clareza se isto é um estado de espiríto que infligimos a nós mesmos ou se é uma situação que acabamos por nos encontrar em determinado momento. Ele não sabe o por quê de não fugir disso, de simplesmente pôr-se em ação, movimento. Ao invés, ele apenas reflete sobre a vida, suas nuances; na verdade, apenas percebe o máximo que consegue captar no auge de sua juventude.
Percebe que está perdendo a poesia. Aquele algo que via na vida, um espectro diferente. Essa visão era apenas um véu, uma camada; não para embelezar os fatos, para fugir de ser incisivo, por mais que o pareça. Era para ser único no olhar que lançava por sobre a realidade. Um modo de expressar-se. Porém, enquanto o tédio reina, ele a procura.
Poderia, caso o encontrasse, avisar-lhe? Caso visse o lirismo perdido? De já, um coração vazio de poetismo agradeceria eternamente.